Em Dezembro de 2018, Agostinho Vuma, Presidente da CTA, foi nomeado Embaixador do SBNMOZ e Presidente do seu Comité de Conselheiros, um órgão que fornecerá orientação estratégica para a Rede no país, contribuindo para que o SBNMOZ cumpra o objectivo de alinhar os negócios com as estratégias e políticas nacionais para a alimentação e nutrição.
SBNMOZ: Como é que reagiu ao convite para ser Embaixador da Rede e ser um dos principais agentes de advocacia da nutrição do e para o sector privado?
Agostinho Vuma (AV): Num primeiro momento, a minha reacção foi de cepticismo. Tinha dificuldades em entender como é que nós, empresários, podemos desempenhar um papel na promoção de melhor nutrição para os Moçambicanos.
Mas depois de analisar a vasta informação sobre o tema, decidi abraçar este desafio e, porque não, uma causa que todo o empresariado nacional deve ter na sua agenda do dia, pois a nutrição afecta a todos nós, como pais, mães, trabalhadores, estudantes, adultos e menores.
SBNMZ: Quais são as intervenções que pretende abraçar como prioridade na qualidade de Embaixador para o sector?
AV: O sector privado desempenha um papel relevante no desenvolvimento e crescimento do país. No domínio da nutrição, temos várias frentes por onde apostar. Por esse motivo, como Embaixador da Rede, decidi olhar para um tema: a nutrição no local do trabalho, uma componente importante, pois pode contribuir para que os trabalhadores e, por extensão, as suas famílias, melhorem os seus hábitos alimentares e tenham uma melhor dieta. As empresas podem implementar diversos programas de nutrição no local do trabalho, desde a alimentação no local de trabalho, a promoção de educação nutricional e muito mais. Mas há outras iniciativas que considero prioritárias, tais como um maior e melhor acesso a financiamento pelas empresas que estão dentro dos sistemas alimentares. Se estas empresas acederem a financiamento e investimento, elas poderão aumentar a produção, melhorar a capacidade de conservação e processamento, bem como distribuição de alimentos mais nutritivos e seguros, a custos acessíveis para todos nós.
SBNMOZ: Como representante do sector privado e Embaixador da Rede, quais são as áreas prioritárias da Rede, para incentivar o envolvimento de mais empresas na melhoria da nutrição?
AV: Olhando para o meu entendimento em relação aos desafios do sector privado, eu diria que a Rede deve também olhar para a questão do apoio directo às empresas, em matérias de assistência técnica e treinamento na gestão de negócios, certificação, qualidade, entre outros aspectos fundamentais para o fortalecimento das empresas nacionais. Principalmente as PMEs, que são as que têm a maior fatia de mão-de-obra no país.
SBNMOZ: No primeiro semestre de 2019, o país foi abalado pelos ciclones IDAI e Kenneth. Como é que estes eventos afectaram o sector privado, na promoção da nutrição e alimentação no país?
AV: Realmente, o início do ano criou profundos constrangimentos para o empresariado. Estive a visitar várias empresas afectadas pelos ciclones IDAI e Kenneth. Testemunhei a tristeza e o momentâneo desânimo de muitos empresários. Muitos perderam tudo. Empresas tiveram de começar do zero. E estes problemas afectaram as empresas, os trabalhadores e as suas famílias. A CTA foi um dos que se juntou ao esforço colectivo, para reconstruir as províncias afectadas. Contribuímos para a realização da Conferência Internacional dos Doadores e, a partir desse momento, estamos a trabalhar com diversas entidades, entre a banca, as agências de investimento e muitas mais, na identificação e avaliação das necessidades das empresas, na identificação de serviços de apoio, desde assistência técnica, até ao acesso ao financiamento. Tudo com vista a recuperar o tecido empresarial afectado. Várias empresas que estão a receber apoio estão fortemente ligadas aos sistemas alimentares. Acreditamos que, quanto mais cedo elas se reerguerem, as populações terão acesso a alimentos nutritivos e de qualidade no país.
SBNMOZ: Qual o envolvimento da CTA no fortalecimento dos sistemas alimentares no país?
AV: No último ano, temos aumentado a nossa contribuição, isto porque temos uma melhor percepção do que se espera de nós, como representantes sectoriais. A CTA contribuiu para a criação e estabelecimento de duas associações de salineiros, sendo uma representativa dos produtores de sal do norte do país e outra que engloba produtores de sal do centro e sul do país. Temos estado a apoiar na capacitação destes empresários e na identificação e desenvolvimento de modelos de negócios para o sector. A CTA tem participado, a nível central e provincial, nas sessões de mesas-redondas promovidas pelo SBNMOZ, onde se discutem temas ligados à promoção da nutrição e desenvolvimento de negócios pelo sector privado.
SBNMOZ: Para que se consiga atacar a questão da nutrição é necessário o envolvimento de todos os actores, desde o sector privado, sector de desenvolvimento, sociedade civil, academia e o Governo. Quais as expectativas do sector privado, em relação ao papel de cada um dos outros sectores, na melhoria da nutrição?
AV: Acredito que cada um destes sectores tem o seu papel a desempenhar neste processo. Só com o contributo de todos, iremos vencer a malnutrição em Moçambique. Três aspectos são cruciais. A melhoria do ambiente de negócios, que aliás é parte do nosso foco. É preciso que haja leis e regulamentos que incentivem a produção e oferta de alimentos nutritivos. O empresário tem de se sentir motivado a investir mais, para oferecer alimentos de qualidade. Mas para investir, ele precisa importar tecnologia. Devem ser criados incentivos para essa importação de tecnologia. Aqui o Governo tem um papel relevante, no que respeita à facilitação da importação de tecnologia. Por outro lado, é preciso que se criem campanhas de criação e geração da demanda por alimentos nutritivos e seguros. Só assim o consumidor irá exigir estes alimentos no mercado, o que contribuirá para o aumento da demanda e, consequentemente, uma maior e melhor oferta de alimentos pelo sector privado. Estas iniciativas de geração da demanda poderiam ser implementadas conjuntamente, pelo sector privado e o sector de desenvolvimento, pois há investimentos iniciais a incorrer. A academia pode desempenhar um papel significativo, se esta se aliar às empresas que produzem alimentos. A investigação pode contribuir para o surgimento de alimentos processados no mercado, o que irá também resultar na adição de valor nos alimentos localmente produzidos.
SBNMOZ: No início desta conversa, mencionou que a nutrição no local de trabalho é uma das suas prioridades. Sendo esta uma das abordagens da Rede, principalmente para as grandes empresas, independentemente do sector ao qual elas estão ligadas, de que maneira a Rede pode alcançar e promover a nutrição dentro dessas empresas?
AV: Antes de mais, temos de realçar que esta é uma temática nova no país. Para que estas empresas respondam a este novo desafio, elas precisam de informação sobre que intervenções e quais os benefícios elas poderão daí tirar. É preciso mostrar ao empresariado que, investir na nutrição no local do trabalho não significa apenas dar comida ao trabalhador. Educar o trabalhador e, por extensão, a sua família, pode ser uma outra forma de melhorar a nutrição. É preciso mostrar que estas intervenções têm um custo, mas os benefícios podem ser maiores, em relação aos investimentos. O sector de desenvolvimento pode contribuir, numa primeira fase, na implementação de programas piloto, para testagem de abordagens de nutrição no local do trabalho. Eu acredito que as empresas irão aliar-se à causa, se daí tirarem benefícios.
SBNMOZ: O que gostaria de dizer aos empresários, como forma de os incentivar a aderir ao desafio de contribuírem para a melhoria da nutrição no país?
AV: Aos empresários nacionais, gostaria de dizer que, como em qualquer investimento, os resultados no investimento na nutrição podem levar o seu tempo a fazer-se sentir. Todavia, os retornos no investimento são muito maiores. Hoje, Moçambique perde cerca de 10% do seu produto interno bruto, devido à fome e malnutrição. Estes são valores que poderiam servir para investirmos no nosso país. Se apostarmos na promoção da nutrição, acredito que brevemente teremos um ambiente de negócios mais fortalecido, um empresariado coeso e trabalhadores mais motivados.
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