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Porque a Economia “Discrimina” as Mulheres?

Igualdade de Género, Mulher e Juventude

Porque a Economia “Discrimina” as Mulheres?

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Prémio Nobel de Economia 2023 vai para Claudia Goldin, economista norte-americana e professora da Universidade Harvard, pelos seus estudos sobre a essência da “injustiça” que as mulheres sofrem no mercado de trabalho. Um tema tão antigo quanto universal acaba de encontrar novas ferramentas para compreender o papel da mulher na sociedade.

Quem tiver lido os pressupostos que levaram à premiação de Claudia Goldin para o Nobel de Economia de 2023 ter-se-á, seguramente, lembrado da realidade que muitas vezes é reportada cá no País. Se calhar vale a pena começar mesmo por aqui.

Existem, em Moçambique, vários estudos e artigos de reflexão que procuram demonstrar a elevada desvantagem da mulher em relação ao homem no mercado de trabalho. O mais recente foi publicado em Maio deste ano e leva como título “Mulher trabalhadora em Moçambique: marginalizada, mal remunerada e sem protecção legal efectiva”. Da autoria das pesquisadoras Estrela Charles e Zanele Chilundo, do Centro de Integridade Pública (CIP), o estudo revela que mais da metade da população moçambicana é composta por mulheres e, deste grupo, 85,4% encontra-se disponível para o mercado de trabalho.

Entretanto, apesar da sua elevada representatividade, a situação da mulher trabalhadora em Moçambique é, no geral, precária: mais de 90% está no sector informal, agrícola e comercial, com um alto grau de precariedade. Na sua maioria, os empregos são temporários, têm um baixo nível de protecção social e legal e os seus rendimentos são baixos e instáveis.

A pesquisa recorreu a mais de 200 anos de dados nos EUA sobre a participação feminina no mercado de trabalho. Essa participação não foi ascendente, mas numa curva em forma de “U”

Quanto às desigualdades salariais, o estudo do CIP estima que, no mundo, a diferença entre homens e mulheres é de 22,9%. Por outras palavras, as mulheres ganham 77,1% daquilo que os homens ganham.

Em Moçambique, a disparidade salarial agregada é de aproximadamente 28,3%. Isto significa que, em média, um homem ganha 28% a mais do que as mulheres, considerando o mesmo nível de educação, produtividade e tempo de trabalho.

O que diz Claudia Goldin?

De acordo com a análise da economista, o papel da mulher no mercado de trabalho e o salário que ela recebe não dependem apenas de mudanças económicas e sociais gerais. Também são determinados pelas suas decisões específicas sobre, por exemplo, o grau de instrução que recebem.

As meninas geralmente tomam decisões sobre o seu futuro trabalho com base na situação das suas mães, e cada geração aprende com os sucessos e fracassos da geração anterior. O processo de avaliar as possibilidades à medida que os tempos mudam ajuda a explicar porque a mudança nas lacunas de género no mercado de trabalho tem sido tão lenta.

Uma das descobertas de Goldin é que os filhos são um dos principais factores que influenciam a desigualdade salarial entre homens e mulheres em países de rendimento elevado. Num artigo de 2010, Goldin e os co-autores Marianne Bertrand e Lawrence Katz demonstraram que as diferenças de salário iniciais são pequenas entre homens e mulheres, mas, assim que chega o primeiro filho, os rendimentos caem para as mulheres e não aumentam na mesma proporção que os dos homens, mesmo que tenham a mesma formação e profissão.

A explicação para isso envolve, entre outros factores, empregadores que esperam que o trabalhador esteja sempre disponível e também a tendência de as mulheres assumirem maior responsabilidade no cuidado dos filhos, impactando os seus rendimentos.

O contributo Claudia Goldin

A importância disso é que “compreender o papel das mulheres no mercado de trabalho é importante para a sociedade. Graças à pesquisa pioneira de Claudia Goldin, agora sabemos muito mais sobre os factores subjacentes e que barreiras podem precisar de ser abordadas no futuro”, explicou Jakob Svensson, presidente do Comité do Prémio em Ciências Económicas. Goldin não oferece soluções, mas a sua pesquisa permite que os formuladores de políticas abordem o problema desde a raiz, disse Randi Hjalmarsson, membro do comité do prémio Nobel.

“Se finalmente entendermos o problema e o chamarmos pelo nome correcto, poderemos traçar um caminho melhor para o futuro”, disse Hjalmarsson, que acrescentou que as descobertas de Goldin têm “enormes implicações sociais”.

O suporte metodológico

A pesquisa recorreu a mais de 200 anos de dados nos Estados Unidos sobre a participação feminina no mercado de trabalho. Diferente do que a pesquisadora imaginava, essa participação não ocorreu de uma maneira ascendente, mas numa curva em forma de “U”.

A cientista teve de fazer um trabalho de detective para encontrar os dados necessários para a sua pesquisa. As estatísticas sistemáticas do mercado de trabalho não foram registadas em alguns períodos e, quando existiam, faltavam informações sobre as mulheres. Isso forçou-a vasculhar os arquivos e encontrar novas fontes de dados e maneiras criativas de usá-los.

Claudia Goldin torna-se na terceira mulher a receber o Nobel de Economia depois de Elinor Ostrom, em 2009, e Esther Duflo em 2019, e vai receber 11 milhões de coroas suecas, o equivalente a cerca de 1 milhão de dólares ou 63,5 milhões de meticais.

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